quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Estomago", melhor longa de ficção


Sempre fui um genuíno fã do cinema nacional, no entanto, de uns tempos para cá, parece que fazer cinema no Brasil só dá certo quando a miséria do país é o tema principal no enredo. Está na hora de mudar este jeito de pensar. O público não quer ir ao cinema para ver o que já presencia no seu dia-dia, mas sim algo diferente que o faça se desligar um pouco do real cotidiano. O sucesso nas bilheterias do filme “Se eu fosse você 2”, prova que não estou inventando argumentos para iniciar meu texto.

Na última terça-feira, 14, o Grande Prêmio Vivo de Cinema Brasileiro premiou os melhores do cinema brasileiro. Surpreendentemente, “Estômago”, dirigido por Marcos Jorge, bateu os badalados “Meu Nome não é Johnny” e “Ensaio sobre a Cegueira” e levou o troféu Otelo como melhor longa ficção e melhor diretor.

O filme vencedor é de fato muito inteligente e criativo. O personagem principal é Raimundo Nonato, um hilário nordestino que chega a São Paulo e cativa a todos com seu jeito inocente e descobre seu talento na cozinha. Entretanto, como o próprio nome já diz, algumas partes do filme envolvendo comida embrulham o estômago quem está assistindo. Outra crítica corriqueira nas nossas produções cinematográficas, presente em “Estomago”, é a linguagem demasiadamente pesada.

O prêmio de melhor longa ficção está em boas mãos. Temos que prestigiar quem tem a ousadia de investir em algo diferente. Selton Mello – melhor ator do país e tema do próximo texto do “umpapoaberto” – levou a estatueta de melhor ator em “Meu nome não é Johnny” e Leandra Leal foi escolhida como melhor atriz pela sua atuação em “Nome Próprio”.



Felipe Pugliese

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O prazer pelo sofrer


Olá meus caros leitores.

Desde os primeiros textos publicados no “umpapoaberto”, a culturabrasileira e mundial é o tema mais abordado e, consequentemente,discutido por meio de comentários. No entanto, ontem passei por umasituação que me fez persuadir que o futebol, tema nunca antes expostoneste espaço, encabeça o ranking dos principais fenômenos culturais doBrasil – não digo no mundo porque a paixão do nosso povo é sim maior.É sim.

Domingo pascal ensolarado na cidade de São Paulo e o estádio PauloMachado de Carvalho é palco para o “Majestoso”, aquele que, paramuitos, é o clássico da maior rivalidade do futebol brasileiro:Corinthians x São Paulo.

O Coringão com aquela gana de desforra, causada pelos três anos queficou sem vencer o São Paulo, e querendo mostrar a sua torcida quemsão os verdadeiros fregueses. Já o Tricolor - antagonista doespetáculo, já que a grande maioria dos presentes eram os corintianos,- foi a campo com o intuito de elucidar a ideia que está com opensamento voltado a Libertadores da América. O resultado destacombinação foi um jogo que, como diria Galvão Bueno: Haja coraçãoamigos. (Em breve você entenderá o motivo de utilizar este jargão).

O relógio marcava 18 minutos do segundo tempo e o placar 1 a 1. OCorinthians bombardeava o São Paulo de todas as formas, mas a bolaparecia não querer a companhia da rede são paulina. Nervoso com asituação, ouvi uma voz balbuciar atrás de mim: “Eu vou morrer docoração... Esse time um dia me mata de infarto!!!”.

Este é um clichê usado pela torcida corintiana, que acostumada com asvitórias conquistadas de maneira sofrida, sempre pensa no estado queficará seu coração após o apito final do juiz. Este homem, no entanto, não usava esta expressão apenas para fantasiar a situação.

O cronômetro já marcava 45 minutos e no placar o injusto 1 a 1insistia em permanecer. A mesma voz voltou a marcar minha memóriaquando gritou, de maneira exaurida: “Eu acredito. Eu acredito em você,Coringão... Eu vou morrer do Coração!!!”.

A placa de três minutos de acréscimo subiu e, como na mente daquelavoz, todos acreditavam. Até que, aos 47, Cristian provou que a fé docorintiano é infalível. Na mesma hora virei para trás para dizeràquele homem que se havia uma coisa que ele jamais deveria deixar deacreditar, esta coisa se chamava Sport Clube Corinthians Paulista. Todavia, quando vireiele havia desabado no meio do tobogã. Desacordado, o sofredor recebia a ajuda de alguns que conseguiram controlar as emoções e reanimá-lo.

Ele bem que avisou que o coração dele poderia parar a qualquer instante, porém ninguém lhe deu ouvidos. Também é verdade, que dizer que o coração do um corintiano corre o risco de parar, em alguns momentos, é de uma obviedade tremenda.


Felipe Pugliese