quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Resenha do filme Feliz Natal

Olá meus caros leitores.

Há algum tempo, a minha vontade de assistir o primeiro filme dirigido pelo ator Selton Mello era muito grande, pois o considero, juntamente com Vagner Moura, o melhor ator nacional da atualidade. No entanto, Feliz Natal ainda não está em cartaz em todos os cinemas da cidade, isto impossibilitou que eu o assistisse antes. Porém, valeu a pena esperar pelo momento certo, e o dia foi ontem.


Li no jornal que Selton Mello participaria de um debate após a sessão de seu novo filme, no HSBC Belas Artes, e não perdi a oportunidade de presenciar, tirar algumas dúvidas com o novo diretor e armazenar algumas idéias para criar uma resenha da obra.

Feliz Natal é um soco no estômago da estrutura familiar burguesa da sociedade contemporânea. Melancolia e Angústia, eis as palavras que melhor definem os personagens criados por Selton. O vício é a saída para quase todos enfrentarem a solidão e a incomunicabilidade em seus cotidianos.

A história é voltada a uma família que tenta se mostrar unida e feliz, todavia a desunião é o que impera na relação entre os familiares. Os personagens são interpretados por, Leonardo Medeiros, Darlene Glória, Paulo Guarnieri, Lucio Mauro e Graziela Moretto.

O personagem principal chama-se Caio, um ex-viciado em cocaína que carrega o trauma de ter matado uma mulher em um acidente de carro sob efeito da droga, fato que não é sugestionado pelo autor, mas é deixado no ar para que o telespectador tenha suas interpretações.

Renegado por parte de sua família, principalmente por seu pai, Caio abandona a cidade grande e seus familiares, vai morar no interior e monta um ferro velho. Contudo, o homem retorna para reencontrar sua família no dia do Natal, e aí começa a trama.

Caio se depara com uma família que matinha relações de cunho estritamente emocionais. Seu pai, um senhor de idade que matinha um relacionamento com uma mulher muito mais nova, não queria nem vê-lo na frente. Já sua mãe, uma mulher que não conseguia mais controlar seus distúrbios mentais, se entregava cada vez mais ao álcool.

O filme é muito sutil ao deixar no ar algumas interpretações para o telespectador. Um exemplo, já citado a cima, é de que Caio matou uma mulher sob efeito de cocaína, isto não é mostrado, mas as alucinações do personagem levam-nos a crer nesta hipótese. Outro fato que comprova esta tese, é o possível relacionamento que Caio pode ter tido com a mulher de seu irmão.

Após armazenar estas idéias sobre o filme, partirei agora ao debate com Selton Mello ocorrido logo após a sessão.

Primeiramente, o novo diretor ressaltou suas referências cinematográficas, destacando Luis Fenando Carvalho (Capitu, Hoje é dia de Maria), explorando a relação de seu filme com Lavoura Arcaica, onde Selton foi protagonista, um filho pródigo, como Leonardo Medeiros (Caio), em Feliz Natal; outra referência é John Cassavetes (Uma Mulher Sob Influência e Faces), o que é perceptível a partir da fotografia inquieta e provocante de Lula Carvalho, filho de Walter Carvalo, que, por coincidência, fotografou Lavoura Arcaica.


Outro ponto ressaltado por Selton no bate papo com a platéia, foi a direção dos atores escolhidos para seu para o seu filme. Todos tiveram muita liberdade para encenar seus personagens, principalmente Darlene Glória, mãe de Caio, que dá um show deslumbrante interpretando uma mulher sem capacidade de controlar suas loucuras.

Selton Mello ainda comparou o cinema nacional com o argentino contemporâneo, colocando nossos vizinhos à nossa frente e citando cineastas como Juan José Campanella ( O filho da Noiva e Clube da lua) e Pablo Trapero (Mundo Grua e Leonera).

Para finalizar, o ator e agora diretor ainda afirmou que não pretende criar um estilo, uma identidade visual como diretor e, sim, dar preferência à multiplicidade tanto temática, quanto estética em seus futuros trabalhos, assim como faz quando ator.

Vale a pena assistir!

Felipe Pugliese





Caio, personagem interpretado por Leonardo Medeiros



Mércia, personagem interpretada por Darlene Glória