Olá meus caros leitores.
Hoje vou publicar um texto que me dá enorme satisfação, pois acredito que tem tudo a ver com este blog.
Quarta-feira, dia 10, o caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo completou 50 anos de existência. Para não passar em branco, o jornal organizou três dias de debates no MASP (Museu da arte moderna de São Paulo); todos contavam com presenças ilustres para debaterem temas relacionados à cultura.
Tive a oportunidade de ir apenas ao de ontem, quando o tema a ser debatido era “Jornalismo e Cultura”. Os convidados foram os jornalistas, Martinas Suzuki Junior, editor da ilustrada nos anos 80, Ruy Castro, escritor e colunista da Folha, e Marcelo Coelho, colunista da Ilustrada e membro do Conselho Editorial da Folha. Os três tiveram um longo bate papo aberto ao público, discutindo temas políticos, culturais e, claro, enriqueceram a platéia com muitas histórias que marcaram as trajetórias de suas carreiras.
Conhecimento e história, eis as palavras que melhor definem estes conceituados jornalistas. Eu irei repassar à vocês algumas das principais partes deste debate.
A comparação entre a cultura nos dias atuais e há de 50 anos atrás foi o que deu início ao debate. Para Marcelo, a cultura virou produto de consumo, logo, a notícia também se tornou refém do capital. “Se tal disco vendeu muitos discos, vira notícia. Não é todo dia que há notícias no Jornalismo Cultural, como a morte da Elis Regina... hoje em dia, falta vitrine ao Jornalismo Cultural. A Ilustrada sempre serviu como vitrinista para a cultura do país”.
Ruy Castro começou sua participação destacando a larga diferença nas pautas e na hora de saber o que é notícia e o que não é, principalmente na Ilustrada. “Tem um mês que a imprensa só fala da Madona. Se fosse antigamente, a Ilustrada teria feito várias piadas com ela. A unanimidade que estão dando a esta cantora seria motivo de gozação para nós. Fernanda Montenegro aparecia três ou quatro vezes por mês na Ilustrada. Hoje em dia, qualquer fugitivo do Big Brother vira ídolo nacional”.
Martinas citou o governo Lula para explicar o momento cultural que o país vive. “O jornalismo cultural cresce de acordo com os momentos políticos vividos. Quando a política cresce, a cultura cresce junto. É uma pena que o governo Lula não teve um grande movimento cultural”. Marcelo discordou do argumento e respondeu da seguinte forma: “Eu acho que o governo Lula tem uma cara cultural forte, mas não é a cara da Ilustrada. Os fatos culturais do país não combinam com o caderno e seus leitores, mas dizer que o governo Lula não teve manifestação cultural é um erro”.
Em um debate entre jornalistas, obviamente o futuro da profissão não poderia deixar de ser colocado em pauta na conversa. Após destacar a importância de jornalistas como, Antônio Maria, Sérgio Porto e Nelson Rodrigues, em sua carreira, Ruy Castro afirmou que o jornalismo atual é muito monótono. “O jornalista tem que ter o hábito de apurar melhor e, principalmente, colocar charme e humor em seu texto na hora de organizar suas idéias. Se a maioria seguir este conselho, teremos um jornal mais agradável, no entanto, infelizmente, não é isto que eu tenho visto ultimamente”.
A seriedade e a falta de jogo de cintura que os jornalistas vêm usando em seus textos foi outro ponto focado por Martinas. “A verdade é que ser bem criativo é uma característica fundamental para todos os jornalistas. O jornalismo sem humor não é nada, hoje em dia as pautas são todas iguais”.
No final do papo, já parecia que os três estavam na sala de suas casas. Totalmente soltos, os três presentearam a platéia com algumas histórias de suas carreiras.
Como na platéia havia muitos estudantes de jornalismo, Ruy Castro contou como foi o seu primeiro emprego na área, no conceituado jornal Correio da Manhã. “Quando eu comecei no Correio da Manhã, pensei que escreveria o que eu quisesse e que criaria minhas próprias pautas. No entanto, comecei cobrindo buracos na rua e atropelamento de cachorro”.
Já no fim do debate, Martinas arrancou risadas do público ao contar dois casos ocorridos na Ilustrada quando ainda era editor do caderno. “Eu me lembro quando fomos cobrir um cantor muito famoso do exterior e o flagramos bebendo uma Itubaina bem vagabunda. Obviamente publicamos a foto no dia seguinte, mas não sabíamos as conseqüências que isso iria nos trazer. Minutos depois da publicação, um dos principais diretores da Coca-Cola ligou na redação descendo o pau em todo mundo. Foi muito engraçado”.
O jornalista destacou também um episódio com cantor e compositor João Gilberto, rei da Bossa Nova. “Nós conseguimos colocar dois repórteres na cola do João Gilberto, um como mordomo e outro como garçom. No dia do show, o João Gilberto atrasou muito e nós precisávamos fechar a matéria. A saída foi estratégica, publicamos a foto do banquinho dele no palco vazio e explicamos o atraso do cantor”.
O debate foi intermediado por Marcos Augusto Gonçalves, atual editor do caderno Ilustrada.
Felipe Pugliese
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